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Foto do escritorGiovanni Alves

Apesar das filmagens terem sido feitas de abril de 2011 a fevereiro de 2012 (em Lisboa e Coimbra), o documentário “Portugal e a crise” só foi lançado em 2013 quando já tinhamos retornado ao Brasil, Na época (2011/2012) eu estava fazendo pós-doutorado na Universidade de Coimbra sob a supervisão do Prof. Dr. Elisio Estanque (o produtor do documentário).


Ao lado de "Precários Inflexiveis" (2012) e "AutoEuropa" (2013), "Portugal e a Crise" (2013) fez parte da trilogia documental que realizei na minha estadia de pós-doutorado em Portugal. Nesse período realizei também dezenas de pequenos experimentos audiovisuais intitulados Portugal 2011 d.C.


É lamentável que os orgãos de avaliação de pesquisadores no Brasil - CAPES e CNPq - não dêem valor às produções audiovisuais de professores e pesquisadores, considerando-as meras produções técnicas nada comparáveis às publicações de artigos científicos, livros e capítulos de livro. O desprezo pelas produções artísticas tornou a Universidade brasileira hoje, uma instutuições mediocre, incapaz de promover a imaginação crítica de alunos e professores.


Diz o letreiro de Abertura do Documentário "Portugal e a Crise":


“No começo de 2011, Portugal é obrigado pelos mercados internacionais a recorrer a ajuda externa da Troika (FMI, BCE e Comissão Européia) devido o aprofundamento da crise financeira que abate os países do sul da Zona do Euro. Ao não conseguir aprovar no parlamento o Quarto Programa de Estabilidade e Crescimento, visando a redução do déficit orçamental, o Primeiro-Ministro socialista José Sorates pede demissão em 23/03/2011, convocando eleições antecipadas. Nas eleições de 06/06/2011, elege-se com ampla maioria de direita, o candidato do PSD, Pedro Passos Coelho, responsável pela implementação de um Programa de Austeridade Fiscal exigido pela Troika em troca de um resgate financeiro interacional de 78 bilhões de euros, Neste documentário apresentamos depoimentos de importantes intelectuais portugueses que comentam em 2011, a natureza da crise portuguesa, seus impactos no mundo do trabalho e as perspectivas de Portugal."

O documentário se divide em 3 Atos.


Ato I: A Natureza da Crise


Entrevistamos Octávio Teixeira, Boaventura de Sousa Santos , Francisco Sarmento, José Manuel Pureza, André Freire e Manuel Carvalho da Silva. Todos eles emitiram sua opinião sobre a natureza da crise portuguesa de 2011.


Octávio Teixeira nos falou da baixa produtividade portuguesa por conta do capitalismo de baixos salários. Na verdade, Portgual foi vítima de um capitalismo que - incapaz de aumentar salários ( pois isto pressionaria a taxa de lucro), caiu na ilusão do crédito fácil.


Boaventura de Sousa Santos salientou que o capital financeiro produziu a crise de Portugal, e ao mesmo tempo, está ditando as regras para seu enfrentamento. O Projeto Europeu foi construído tendo por base o neoliberalismo que minou inclusive, as elites políticas, tornando-as serviçais dos mercados. A crise européia ou a crise das dívidas soberanas foi também resultado do ataque ao Euro desde a crise de 2009.


Francisco Sarmento salientou a eliminação da capacidade produtiva de Portugal que por conta do projeto da União Européia tornou-se subordinado aos interesses de grandes fornecedores europeus.

José Manuel Pureza destacou o mecanismo de transferência de riqueza do mundo do trabalho para o mundo do capital por meio da transformação da divida privada em divida pública, fazendo assim a recapitalização dos bancos.


André Freire falou da frágil especialização econômica de Portugal frente a União Européia.; e por fim, neste Ato I, concluímos com a fala de Manuel Carvalho da Silva, presidente na época, da CGTP (Central Geral dos Trabalhadores Portugueses), que observou que “a coisa está a andar para trás”. Para ele o problema foi a idéia do dinheiro fácil e a ilusão de consumo que fez o crédito substituir a melhoria dos salários. Ele não faz a crítica do capitalismo, mas sim, lamenta a deturpação capitalista que provovou a crise.


O Ato II intitulou-se A precarização do Trabalho.


Os depoimentos abordam a redução da negociação coletiva à negociação por empresa, as medidas de facilitação das demissões, fazendo com que “ter um emprego é luxo” e que “não se deve reivindicar para garantir o luxo – o privilégio de ter um emprego”.


Destacaram a cultura da precariedade; a retirada e limitações dos direitos sociais e o cenário de aumento de impostos, inflação, aumento de medicamentos e enfim, transferência de renda do trabalho para o capital.


O depoimento de Paulo Granjo é interessante pois ele salientou a gestão da incerteza: as pessoas vivem numa total incerteza e insegurança quanto ao futuro, numa situação de insustentabilidade que cria um clima para revoltas e violência.


Marisa Matias fala da precariedade de todas as relações laborais; e Vasco Lourenço, faz referência à “revolta de escravos” face ao aumento da precariedade laboral. Ele identifica precários com escravos.


Por fim, Boaventura de Sousa Santos falou algo deveras interessante: substituiu-se o discurso da cidadania pelo discurso dos direitos humanos. O capitalismo neoliberal promoveu a deterioração do trabalho, reduzindo-o a fator de produção. O trabalho não dá mais acesso à cidadania, pois não é trabalho com direitos. Deixou também de dar uma identidade coletiva. Pela primeira vez, temos uma força de trabalho global, mas não existe um mercado de trabalho global. A lógica d neoliberalismo esfumaçou a diferença esquerda e direita. Não há mais contrato social, mas sim contrato entre iguais. Isto faz desaparecer a negociação coletiva.


Ato III finalizou o documentário tratando das Perspectivas de Portugal


Francisco Sarmento fez uma observação deveras interessante: existem hoje na Europa apenas líderes politicos medíocres – isso em 2011!


Enfim, o Projeto Europeu está morto, e o Euro é insustentável.


Tais foram as percepções no calor da crise de Portugal em 2011 – isto é, há pouco mais de 10 anos.


O documentário se encerrou com uma música do Album “Crisis? What Crisis?”, da banda Supertramp – uma sugestão do Professor João Manuel Pureza – na época, deputado do Bloco de Esquerda no Parlamento português.


Eis o trailer do documentário.

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