top of page
  • Foto do escritorGiovanni Alves


O videodocumentário “Garota de Programa” foi lançado em 13 de junho de 2013. Foi produzido a partir de material audiovisual coletado em 2009. Este videodocumentário foi produzido como trabalho audiovisual da disciplina Sociologia do Trabalho sob a coordenação-geral do Prof. Dr. Giovanni Alves que dirigiu, editou e finalizou o material audiovisual coletado pelos alunos do 2º. Semestre de 2009. A Produção foi assinada por Camila Fontes Savassa, Rodrigo Fessel Sega e Marisa Okuyama, alunos do 4º. Ano do curso de ciências sociais da UNESP – Marília.


O vídeo abre com a música “Jeux D’Amor”, de Rodrigo Leão (o compositor preferido das trilhas musicais do CineTrabalho). É concluído com a música “Amor de bandido”, de Dubosky.


Diz o letreiro de abertura:


“Este é um depoimento da história de vida/história do trabalho de uma garota de programa, trabalhadora do sexo, prostituta, puta, mulher da vida. Para preservar sua identidade pessoal, filmamos seu depoimento sem registrar diretamente seu rosto. A trabalhadora do sexo está imersa nas formas mais radicais de fetichismo da mercadoria: o fetichismo do dinheiro e o fetichismo do corpo. Como trabalhadora do sexo, ela vive com pragmatismo, a experiencia da degradação da pessoa humana como mercadoria viva. A prostituta é objeto de desejo que cultiva em si e para si, o desejo insaciável do objeto-mercadoria supremo: o dinheiro.”.


O letreiro prossegue: “De Programa: Diz-se de pessoa que faz programas amorosos por dinheiro.” (Aurélio).


A depoente que diz ter 20 anos, afirmou ter começado nesta profissão aos 18 anos. Estava desempregada, tinha acabado de sair do emprego e foi abordada por um “veado” que lhe conviou para trabalhar no Bangalô, uma casa de prostituição na pequena cidade de origem. Foi escondida da família. Hoje, diz ela, que a mãe sabe, “mas faz de conta que não sabe”. Depois, ela veio para Marilia (SP).

Ela descreve a experiência do trabalho de garota de programa ou da trabalhadora do sexo. Por exemplo: trabalhar em boate é desgastante pois bebe-se todo dia. Isto, diz ela, desgasta o corpo.


Ela enfatiza: o objetivo é “depenar” o cliente, fazendo-o beber: “Você acaba estuprando a Carteira do cara”. Utilizar o termo “estupro” para a Carteira de dinheiro, mostra a linguagem refletindo o fetichismo do mundo social (a Carteira de dinheiro tem “vida”, por isso ela pode ser...estuprada).O termo que ela utiliza é “matar o homem” que significa “pegar o dinheiro dele”. Ou ainda: “estripar a carteira do cara”. Existe um sentido de misandria no termo (a misandria é o nome dado ao sentimento de raiva ou aversão praticado contra o sexo masculino).


Ela diz que a bebida oferecida, o whisky é falso...Fala das boates – Tropical, Coquetel, Morumbi, Três Corpos. Trabalhar em boate faz com que a vida pessoal fique presa. O dono da Coquetel tem uma Agencia de Garotas de Programa. Ele é um capitalista que explora o sexo. Depois ela faz referencia à espoliação que a garota de programa está sujeita quando trabalha nas boates. Por exemplo, o Programa custa R$ 150,00 – R$ 50,00 é do dono da Agencia (o “cafetão”). Mas outros espoliam mais – por exemplo, R$ 80,00 é da garota e R$ 70,00 do “cafetão”. Ela diz que só trabalha com Agencia, evitando trabalhar nas boates.


Diz que “só por dinheiro que você passa por isso”, afinal o trabalho não tem proteção nenhuma (quem defende as Garotas, diz ela, é a bandidagem). De fato, a Garota de Programa é escrava do dinheiro. Mas por trás disso temos o ethos do sobrevivencialismo e a lei da selva capitalista. A inversão das coisas é flagrante: são os bandidos que defendem as Prostitutas de clientes que não pagam pelo serviço prestado. Os riscos são muitos: AIDS e violência.


Muitas das Garotas de Programas sustentam a família – pai e mãe sabem, mas fazem de conta que não sabem. Os Programas ajudam a pagar a Faculdade. Ela diz: “Dinheiro de Programa, que nem tráfico: não é fácil, vem rápido e vai embora mais rápido ainda”.


Ela tem uma dura filosofia de vida: é preciso aproveitar a vida. E percebe-se no discurso – como já observamos acima – uma sentimento de raiva ou aversão praticado contra o sexo masculino. Diz: “Homem é um bicho que não presta – não pode ver uma mulher pelada”. Assim, ela foi construindo uma imagem do Homem como sendo aquele que trai a esposa e engana a mulher com uma Garota de Programa. Homem é aquele bicho carente que acha que a menina vai se apaixonar por ele. Mas o que a menina quer é apenas sua Carteira. Diz que muitos clientes são homens casados. Diferentes homens procuram diferentes coisas. Uns não querem sexo, mas companhias. Outros querem um sexo perverso – “querem apanhar, quer ser comido”. Assim, eles gozam felizes.

Ela tem uma psicologia do Macho carente. Diz ela: “[...] paga para ter o sentimento que pode muito”.


Diz ela que “tudo a gente negocia”. Afinal, vive-se no mundo das trocas mercantis, o império da forma-valor - mercadoria e dinheiro. Mas ela reconhece que existe o lado humano: “A gente não é bicho”. E ressalta o aspecto do trabalho e autoestima. Diz ela: “Eu subo pelos meus esforços, não pelo que a família tem”. Na verdade, pode-se tratar de uma racionalização, mas existe a percepção da auto-atividade – mesmo ela sendo estranhada.


Finalmente, a Garota de Programa não se ilude: “Eu quero só dinheiro, não quero o amor deles”. Finaliza expondo mais uma vez o sentimento de misandria: “Nunca vi homem fiel na vida”. E expele o pragmatismo duro das relações afetivas onde diz que quer – no fundo – "arranjar um velho rico e dar o golpe do baú".


É a plena representação da vida das mercadorias, esvaziadas de sentido humano, cujo sentimento fundamental é o pragmatismo que – na vida (e na política) – serve para reproduzir a Ordem do capital. É importante salientar que a Garota de Programa é uma espécime da geração neoliberal e o pragmatismo é o combustível dos afetos neoliberais - não apenas na política (por exemplo, o lulismo e a prática politica do PT), mas na vida social face à miséria brasileira.

14 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo
bottom of page